A programação em Harvard começa cedo! Acordei às 6 da manhã, visto que o café da manhã está programado para as 7:00 hs. Dormi pouco, acabei me excedendo (e esquecendo da vida) na preparação na noite anteiror e fui me deitar às 2:30... Contudo, bastante animado e muito alegre com mais essa oportunidade que a FDC me ofereceu (a HBS recebe dos nossos Deans a nossa indicação/recomendação ao programa):
Hoje foi o primeiro dia completo de programa: realizei a minha preparação individual na noite anterior, reuni-me com meu 'living group' (discussion group) às 8 da manhã e me dirigi para a sala de aula às 9 horas. Embora o dia tenha sido muito instigante, a parte mais interessante foi o 'discussion group' antes da entrada em sala de aula. Fui eleito pelos colegas o "chairman of the board" e iniciamos uma animada discussão sobre três casos bastante diferentes (ethics and corporative governance, leader[ship] development, executive/business education). Como mencionei no post anterior, tenho colegas da Bulgária (professor na França), Alemanha (professor na China), Japão, Cingapura, dentre outros. Aliás, impressionante o número de professores importados pela China e Cingapura... Não conseguimos terminar toda a discussão no tempo estipulado, mas saímos satisfeitos por ter enxergado os problemas sobre perspectivas completamente diferentes. Lembrem-se que o objetivo não é chegar ao consenso, mas iluminar o debate e aumentar o repertório. A sequência preparação individual + discussion group é bastante útil para compreender dois aspectos imporantes: a redução da incerteza (em pontos de concordância com os colegas) e o gerenciamento da ambiguidade (as interpretações divergentes). Eu sempre estimulo isso nas minha aulas na FDC: muitas vezes não concordaremos e não haverá respostas, apenas novos e bons questionamentos:
"the most common source of mistakes in management decisions is the emphasis on finding the right answer rather than the right question" (Peter Ferdinand Drucker)
Chamou-me a atenção, uma vez mais, o acervo tecnológico da sala de aula: sempre muito bem utilizado pelos professores! Observe na foto abaixo que os "quadros-negros" sobem e descem mecanicamente (é, amigos, a HBS utiliza a velha tecnologia do "giz e cuspe"), o datashow é de altísssima resolução, há múltiplos softwares para edições multimídias (extratos de vídeos, web pages, office, etc) e até uma versão moderna do velho retroprojetor: uma câmera de alta resolução onde vc reproduz na tela as suas notas de aula, livros, textos, fotos, etc.
Eis a visãö do professor da sala de aula (eles denominam esse espaço do professor na sala de 'The PIT' ):
Obervem tb a câmera no fundo da sala (há outras duas nas laterais da sala) e a "curvatura da sala" (o meu assento é na 2a. fileira de baixo para cima):
Rohit abordou o seu tema, demonstrando o quão transversalmente o caso aborda tópicos distintos: ética, governaça, liderança, crisis management, cultura, confiança, valores, etc (era o caso do James Burke com o tylenol). No GCPCL, o professor não apenas ministra a sua aula, mas também e principalmente nos instiga a refletir sobre a metodologia que ele utiliza. Nas suas conclusões sobre a metodologia, Rohit nos apresentou um sequência interessante, que me lembrou a proposta de "experiential learning" do Kolb:
- Level one: knowing
- Level two: doing(skills)
-Level three: being(attitudes, believe, mind setting, world view)
Para ele, nós - professores - transitamos muito bem no primeiro nível, mas temos sérias dificuldades em acessar os outros dois níveis. Em suas próprias palavras: "participant-centered learning is deep learning, is about setting the goals. It's focus on learning, not on teaching; it's about discovering, not covering; finally, it's about engaging people". Prova disso é que cada sessão presencial em sala de aula não dura mais que 1:30 minutos...
Eu tenho verdadeiro "pavor" da discussão messiânica de liderança e sei bem os estragos que a literatura de auto-ajuda de liderança tem causado às organizações ao empurrar a gestão ladeira abaixo. Contudo, Scott abordou o tema de forma leve (embora bastante superficial), abusou do seu "showmanship" e deu o seu recado de forma simples (sem ser simplista ou simplório). Acredito que ele poderia ter explorado melhor as questões metodológicas ( e quase não fez isso) e discutido um pouco mais acerca de sua longa experiência com o tema. Em alguns momentos ele exagerou na dose de hipnose/sedução, com a conivência quase absoluta da maioria silenciosa. Para falar a verdade, eu gostaria de ter ouvido um pouco sobre o "theoretical background" que alimenta a velha tríade que ele propõe: person (self awareness)- style (self regulation)- situation (situational awareness). Para ele, o elo é: "style and self regulation, a life-long journey". Scott abusou dos vídeos em sala e se esqueceu - em vários momentos - de que falava para seus pares de várias partes de mundo. Abusando da horrorosa máxima do Galvão Bueno: "não há ninguém mais bobo no mundo do futebol"... muito menos nas universidades e escolas de negócios do mundo inteiro...
Para finalizar o dia, uma vez mais, Paul Marshall provocou a grupo a refletir: "How do people learn?". Entre idas e vindas, abordamos os dilemas de executive education x full mbas, doctoral programs ,etc. Dessa vez, sua "maiêutica socrática" não foi tão bem sucedida... Ele terminou com a recomendação aos professores: "don't study your teaching notes, but your class cards!" Era uma clara referência à necessidade de conhecer em profundidade os alunos/participantes antes de adentramos a sala de aula: "this creates a good learning environment, students feel they're part of it."
O dia de hoje me fez refletir acerca da qualidade internacional da FDC. Não se trata de um postura arrogante ou de nos assentarmos sobre as conquistas, mas o quanto trabalhamos duro para sermos melhores, acelerando a nossa potência de aprendizado e trabalhando junto com os nossos clientes. Nosso capital humano e estrutural é comparável e continuaremos a perseguir nossa missão. É isso aí...
Entre 15 e 18 horas tivemos o nosso tempo de aprendizado individual preservado e fomos nos preparar para o dia de amanhã. Terminei mais cedo (li os casos de hoje ainda no Brasil) e fui dar uma volta pelo Campus da HBS. Pude perceber realmente o quanto é importante para os full time students residirem no campus. Há alojamentos individuais e apartamentos para os casados e seus filhos. A casa do DEAN está sendo reformada, visto que o novo Dean Nitin Nohria passará a residir no campus com a sua família. Parece que há muitas décadas um dean não residia no campus da HBS. Utilizo um paper extraordinário do Nohria com os alunos de MBA da FDC, " Note on Organization Structure":
http://people.ischool.berkeley.edu/~hansen/Note%20on%20org%20structure.pdf
Até o próximo post!
Riva